Francisca.

Henrique

Quando eu tinha dezenove anos eu decidi ir morar em São Paulo. Arrumei minhas malas, resolvi tudo o que tinha pra ser resolvido na minha cidade natal, até a conta na venda de Seu Venâncio eu paguei. Meu ônibus saia as sete da noite, mainha não teve tempo pra sentir saudade ou ficar aflita de preocupação, ela já tinha me abandonado quando eu era um bebê. Que mãe deixa seu filho com três meses de nascido? Mas foi culpa dela não, a seca tava de mais e Deus foi cruel feito o cão. Sem falar nos meus dois irmãos que era pra ter nascido. Até hoje eu sinto que depois de mim era pra vim mais dois, Vitória e Guilherme, do jeito que painho queria. Mas só foi eu.
Entrei no ônibus num senti falta de nada e tinha certeza que não ia me bater uma gota de saudade daquele lugar seco. Pra uns aquela cidade era igualzinho o inferno, só faltava o capeta. 
Quando eu vi a cidade grandona, que nem meus primo falava, tremi. Tremi foi de frio. Tava numa chuva danada e eu fiquei feliz, desci do ônibus e me piquei pra chuva. E mesmo ouvindo os trovão eu me acabei na chuva. Cada gota que caia do céu era de felicidade minha. Aí eu pensei, "que Deus bandido! Mata meu povo de sede e dá água a quem não precisa." Peguei minhas coisa e fui procurar um lugarzinho pra descansar, pra guarda minhas coisas. Num teve lugar pra me caber, não teve cama pra me deitar. Acabei indo pra igreja, porque painho me disse uma vez que era o único lugar mais seguro do mundo. 
Abri a mala e panhei minha toalha, sequei todo meu corpo e quando eu olhei tinha um homem me comendo com os olhos. Me senti despida diante dele, quando menos esperei já estava no quarto e na vida dele, nua. Matias era bonito, trabalhador, só não era honesto. Quando descobri que ele era casado me deu um ódio do cão. "Juro por Deus, Matias, que eu lhe mato se você não separar dela". Parece que tava com o cão nas costa, separou não. Um dia, tava bem calor, panhei a faca na cozinha e ameacei aquela miséria de morte, ele morreu de medo e se picou, sumiu Matias. 
Procurei essa mulher dele e achei. Eu tentei até conversar, resolver que nem gente, mas esse povo de cidade grande quer resolver tudo na justiça. Me retei e piquei a mão na mulher. A porra toda é que eu não sabia que a bichinha tava prenha, perdeu o filho e eu perdi minha vida. 

Um comentário:

Anônimo disse...

forte né?