Ela em mim.

Confesso que sou um desastre, uma peste em corpo
de moça bonita. Esqueço tudo o que não devo esquecer,
lembro do que não devo lembrar, leio tudo. Mordo os lábios,
mas não sei fazer xixi em pé igual o meu irmão.
Costumo ir até a geladeira, abrir a porta e pensar. Tanto lugar
e eu procuro logo por ela pra poder pensar em paz. Acho que ela
alivia meus pensamentos, minhas preocupações.
Gosto do rosa, odeio amarelo, nunca gostei, menti.
Já tive quarto azul, e o amei a cada noite de leitura, a cada manhã
de música. O preto já ficou em mim, na alma. Deixei lá enquanto chorava
no meu quarto azul, chorava por que tinha perdido um pedaço da minha
história, da construção do meu eu.
Depois passou e veio a cozinha branca, a cozinha da mamãe. Adoro ficar por lá,
adoro mexer e remexer as panelas, abrir as gavetas, olhar o teto, preparar uma
sopa, um café... e tem a geladeira.
Fui muita coisa ontem, tinha muita cor por perto de mim, do meu ar. Hoje tenho
milhares de coisas, as cores segue-me, grudam em minha pele e eu as amo.
Vivo, respiro. Sou digna da minha paciência, do meu ser e da minha sabedoria.
Lutei pra chegar até a montanha, suei muito pra perder coisas ruins, mas cheguei.
E continuo, e paro, e canso, mas não desisto.
Fui a menina meiga um dia, ainda a mantenho em mim, mas agora tem a peste,
tem a mulher maravilho que eu me tornei. Olha eu aqui, sempre bem, sempre boa.

2 comentários:

Bird disse...

E a gente muda com tempo.

Stº Lorac disse...

O Tempo passa e muitas vezes mudamos para melhor ou para pior, mas mudamos isso é inevitável.
Beijos