Tarô verdade.

A não entrega mata o desejo alheio.

martian




















Fui em direção a "salinha da vó", como era chamada, para o encontro de dona Menina. A sala cheirava incenso, haviam dois gatos, um em seu colo e o outro deitado em um tapete. Ela me olhou, pediu que eu me sentasse. "O moço percura o que?" Sem pensar respondi que precisava da resposta. Ela fitou meu olhos, pegou as cartas de tarô e pediu que eu escolhesse, escolhi. Talvez eu não tenha escolhido as cartas certas, porque no momento em que eu escolhia pensava no carro estacionado em uma rua tão deserta, e se alguém passasse e roubasse meu carro? Seria trágico. Muito mais do que a cena ridícula que eu causei na minha vida indo ali, na "salinha da vó". "Não.. não." Entre uma palavra e outra eu via em seus dentes pedaços de amendoim, sua língua fazia movimentos estranhos e mostrava-se branca. "Num vai dá certo, aqui eu tô vendo que o moço vai começar um novo relacionamento". Tremi. "Mas tem a distância, num via dá certo." Naquele momento eu imaginei que seria a Marilia, conheci em um congresso, bonita e inteligente. Até marcamos um encontro para o fim de semana, eu até estava contente em sair com alguém, mas pensando bem, não vai dá certo mesmo. Levantei, paguei com cara de satisfação e fui em direção ao meu carro, estava lá. No caminho de casa pensei no que dona Menina falou, cheguei a conclusão de que a distância não é a física, a distância é minha, porque eu ainda amo a Karina. 

Um comentário:

Isadora Peres disse...

Muito bom, Lu! Como sempre! Adorei toda a história, o contexto e o desfecho. A conclusão que ele mesmo chega no final, é perfeita e muito real... Ah! Teus textos que sempre me fazem refletir e me maravilhar com o teu dom... Saudades imensas que eu estava daqui!

Beijos, flor.